17 anos, apenas 17 anos. E quando
se tem a minha idade e tem as condições que eu tenho as coisas podem parecer
um pouco mais difíceis que o normal.
Eu nunca fui de reclamar da minha
vida, eu cresci em uma chácara dentro de um pequeno vale e lá as pessoas não
viam a cor que eu tinha, elas viam o que eu era e foi graças a isso que eu
consegui me reconhecer como uma bela garota de cabelos negros e pele verde.
Isso mesmo, pele verde, completamente verde, como o limão, o alface ou qualquer
outra folhagem das copas das árvores. Eu não era uma estranha, eu era apenas
Daníca, uma garota que acabará de completar 17 anos.
Estar dentro de um vale tinha os
seus pros e os seus contras. Os meus pais tinham medo de que as pessoas
reagissem mal ao se depararem com uma criatura tão "peculiar", por
isso eu nunca podia atravessá-lo até alcançar a trilha que levava a cidade. E
mesmo que isso me fizesse explodir de curiosidade eu me considerava abençoada.
O vale não era como os outros, sim, eu nunca havia conhecido outro, mas algo me
dizia isso, a luz era mais clara, o som era mais forte, o cheiro era mais doce
e eu podia senti-lo dentro de mim.
Todos os dias antes do por do sol eu subia
no morro e deitava na grama macia e aconchegante apenas para observa-lo partir
e quando os últimos raios tocavam o vale a minha pele se iluminava de uma
maneira diferente, como uma pedra preciosa, uma esmeralda viva, completamente
reluzente e repleta de esplendor, eu sentia a luz me preencher e me reenergizar
e aos poucos eu ia deixando a luz me iluminar e naquele instante eu me sentia a
criatura mais linda do mundo.
-Linda! Tão linda quanto uma
pedra de Esmeralda...
Eu já havia reconhecido a voz que
vinha de traz de mim, mas mesmo assim eu me virei e pude ver o meu pai esboçar
o sorriso mais lindo que uma pessoa poderia dar para mim.
-São seus olhos, pai!
-Então que eles permaneçam sempre
assim, deslumbrados com tamanha beleza!
Eu abracei meu pai
-O que é isso que tem nas mãos?
-Haaa, isso você só vai descobrir
quando chegarmos em casa!
-Ha pai, isso não é justo!
-Tentei pegar o embrulho feito com um laço de fita verde, mas ele foi mais
rápido. -Deixa eu ver!
Meu pai desviou de mim e correu
pelo vale me fazendo o perseguir até chegar em casa.
E antes que eu pudesse atravessar
a porta, lá estava ele, com um enorme sorriso no rosto, ao lado da minha mãe
que segurava um bolo enorme nas mãos.
-Feliz aniversário, filha!
Eles falaram ao mesmo tempo,
enchendo os meus olhos de lagrimas.
-Mãe, como foi que fez esse bolo
sem que eu percebesse?
-Não foi tão difícil meu amor!
Você passa mais tempo enfurnada naquele bosque do que dentro de casa!
Sorri ainda encantada com o gesto
dos dois.
Minha mãe colocou o bolo sobre a
mesa e eu me aproximei para observar os detalhes minuciosos que ela se deu o
trabalho de fazer.
-E de nozes meu amor, do jeito
que você gosta!
-Não precisava ter todo esse
trabalho mãe, olha só esse bolo?! Deve ter dado um trabalhão.
-Você nunca será um trabalho em
nossas vidas, Daníca! É a única filha que eu tenho!
-Que o bolo está bom, está na cara,
agora o que interessa é saber se vai gostar do presente que escolhemos pra
você!
Meu pai me entregou o embrulho e
eu não pude esconder a empolgação. Eu desenrolei o laço e abri o papel envolta
e quando retirei o presente do embrulho estava extasiada. Era uma caixa muito
delicada com desenhos de flores talhadas e pedrinhas brilhantes cravejadas. E
ao abrir a caixa pra minha surpresa la estava uma linda bailarina girando sobre
um pedestal ao som de uma musica que parecia ser tocada por um piano.
-E lindo, não é? Eu pedi que me trouxessem
da terra dos Munchkin, eles conseguem construir cada coisa... -Risos. -Dizem
que esse artefato foi projetado pelo próprio mágico!
-É a coisa mais linda que eu já
vi, pai! Muito obrigada!
Era bom ter os meus pais por
perto, eles eram protetores e cuidadosos, eles faziam de tudo para que eu me
sentisse feliz, e eu não tinha como ser mais grata por isso. Eu sabia que nós
não éramos a família mais rica do mundo, mais valorizávamos o que tínhamos e
isso era o mais importante.
Aquela noite estava mais fria que de costume e
sentamos próximos a lareira para comer o bolo de nozes que a minha mãe tinha
feito para mim.
-Nossa mãe, o bolo está
maravilhoso!
-Tudo que a sua mãe faz é
maravilhoso! -Meu pai se virou e chamou a minha mãe que olhava fixamente para a
escuridão pela janela. -Vai ficar aí e não vai provar esse bolo maravilhoso!
Venha, não há nada la fora.
-Eu sei, eu só me distraí um
pouco. -Ela forçou um sorriso e eu pude notar que ela estava preocupada. -Está
frio...
-Mãe, está tudo bem?
-Está sim, filha! E apenas o
frio, eu vou buscar mais lenha.
-Ana, está frio la fora! Não
precisa se preocupar que o frio não virá até nós hoje!
-Tem razão! -minha mãe deu um
suspiro e sorriu se aproximando da lareira. -Bom! Então vamos provar esse bolo
que eu mesma fiz e não sei se está tão maravilhoso quanto vocês dizem está!
Minha mãe estava cortando uma fatia
quando uma ventania soprou pela casa movendo os objetos de lugar e sacudindo os
moveis.
-O que é isso!
Falei e em uma fração de segundos
a minha mãe virou-se e com um suspiro de pavor colocando uma mão sobre a boca
enquanto a outra buscava um apoio para se levantar do chão.
Eu senti um arrepio serpentear
sobre o meu corpo como se já soubesse o que estava atrás de mim, meu corpo
tremia a ponto de sentir o ranger dos meus ossos. Eu respirei fundo e
concentrei as minhas forças para mover o meu corpo, a única coisa que eu
consegui foi girar o meu pescoço e ver
uma mulher parada bem na nossa frente.
-O que você quer aqui?! Você não é
bem-vinda nessa casa, Theodora!
Meu pai falou com a voz estridente
Meu pai falou com a voz estridente
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