O frio invadiu a casa e a lareira antes abrasada, agora
lutava para manter a pequena chama que tinha sobrado acesa.
-Eu não preciso de convite... Ao menos. -Ela olhou para mim
como se observasse um animal. -Não precisei a 17 anos atrás!
-Você não vai levar a minha filha!
Minha mãe se levantou e tomou a frente do meu pai que a
segurou pelos ombros.
-Olha só! Nem tinha visto você aí, Anabel. Acho que me acostumei
com a sua insignificância...
-Eu quero que saia desta casa imediatamente maldita!
Theodora soltou uma risada estridente como se estivesse
debochando das palavras de meu pai!
-Você não tem forças contra a mim, Arthur! Além disso eu
tenho pressa. -Ela balançou a mão e os dois foram puxados para as cadeiras.
-Lenora caiu! E as coisas tenderam a piorar desde que aquela maldita bruxa
assumiu Quadiling... Eles a chamam de Glinda, a bruxa boa do sul!
-Logo você vai ter o que merece Theodora!
Eu olhei para o meu pai e pude ver ele se retorcer sobre a
cadeira. Ele estava preso em uma espécie de corda verde.
-Pai! -Corri e tentei desfazer a corda mágica que o prendia.
-Não adianta tentar soltá-lo querida! É mágica...
-Solte eles!
-Não é assim que funciona, meu bem!
-SOLTE ELES, AGORA!
O meu desespero fez uma onda de vento soprar sobre a bruxa a
fazendo cambalear.
-Eu estava certa! Theodora olhou para mim impressionada.
-Você é tão poderosa quanto a sua mãe.
-Eu sou a mãe dela! Eu!
Eu estava confusa e um turbilhão de pensamentos preencheu a
minha cabeça. Quem era aquela mulher? Porque estava lá? Porque ela citava outra
pessoa como minha mãe? Eu me apoiei sobre a mesa tentando manter a respiração
agora ofegante, controlada.
-Então a garota não sabe quem ela é?
-Não há nada que a Daníca precise saber de você, Theodora!
A voz de Anabel estava tremula e rouca.
-Do que ela está falando?
Eu perguntei olhando diretamente para os meus pais
-Ela não é uma boa pessoa Daníca, ela é uma bruxa má, só
sabe destruir e fazer o mal!
Minha mãe olhava fixamente para mim
Minha mãe olhava fixamente para mim
-O que Anabel quis dizer, Daníca... É que você não é o que
parece ser! Eles te contaram por que você é verde? Te falaram por que te esconderam
aqui? Provavelmente você não deve conhecer outras pessoas!
-Cale-se Theodora!
Meu pai gritou contra a bruxa que se aproximou de mim e
esbravejou as palavras todas de uma só vez!
-Eles fizeram isso, porque você também é uma bruxa! -Ela
girou para outro lado e a sua capa preta dançou sobre o vento frio. -A sua mãe
dominava Gillikin até ser derrotada e destruída durante uma batalha, felizmente
ela levou a maldita bruxa boa Oeste, e ai, eu puder passar um
bom tempo a sua procura, mas só pude encontrá-la agora, usando o feitiço do
aniversário. Esses que você chama de pais fizeram um bom trabalho te
escondendo. Mas finalmente eu te encontrei!
-Ela não vai a lugar nenhum com você, bruxa!
-Isso não está em suas mãos, Arthur. Vocês sabiam de tudo
quando receberam a criança das mãos de Lenora, e ao invés de prepará-la para o
seu legado. -Theodora agarrou o pescoço de Arthur cravando a suas unhas sobre
ele. -Vocês fugiram e a esconderam.
-E eu faria isso quantas vezes fosse preciso!
-Só esqueceu de um detalhe, os mortos não se mexem...
-Solta ele! -A minha única reação foi correr e empurrar a
bruxa contra a parede. -Não me importa a sua história, eu não acredito!
Theodora soltou outra gargalhada e apontou seu dedo para mim.
Uma descarga elétrica envolveu o meu corpo me imobilizando e derrubando no chão
de joelhos.
-Sua tola, acha mesmo que poderá me impedir? Esse é o seu
destino, acha que o mundo que esses dois criaram pra você é real? Eles te
mantiveram presa aqui porque assim que se mostrasse para as outras pessoas o
seu único destino seria as forquilhas e tochas.
-Deixe-a em paz Theodora!
Como um empurrão, meu corpo foi jogado e eu desabei como um
objeto qualquer sem condições de defender o ataque.
-Eu vou te dar duas opções neste momento Daníca! Ou você vem
comigo, ou eu transformo tudo o que você mais preza em cinzas
.
Eu olhei fixamente para os meus pais que gritavam para que
eu fugisse de casa e fosse para bem longe, mas naquele instante eu não ouvia
mais nada, apenas olhava fixamente para Theodora que permanecia com a feição
pétrea.
-Eu acho que a pergunta não foi clara o suficiente. -Teodora
girou a mão e as cordas que mantinham meus pais presos, começou a apertar
serpenteado sobre todo o corpo deles.
-Para! Para, por favor! Para!
Eles começaram a sufocar enquanto as cordas ceifavam a vida
deles lentamente.
-EU VOU COM VOCÊ! PARA! EU VOU...
As cordas desapareceram deixando os dois desmaiados sobre as
cadeiras.
-Boa resposta! -Theodora saiu caminhando e minhas emoções
explodiram em um choro sufocante a incessável. -Vamos de uma vez, antes que me
arrependa de manter esses dois vivos.
Eu não poderia correr o risco de ser a causa de algum mal
aos meus pais, então eu não pensei duas vezes e apenas levantei e dei uma
ultima olhada no que estava a minha volta, a sensação de deixar tudo que eu
prezava para trás fez meu corpo tremer em uma onda de desespero. Eu não sabia o
que seria de mim dali em diante, mas eu tinha certeza de que nada seria igual.
Eu segui pelo corredor tentando conter a emoção e antes de
chegar a porta eu peguei a caixinha de música que ganhará de presente.
-Eu nunca vou esquecer vocês...
E foi a ultima coisa que fiz antes de fechar a porta.
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