terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Green: Livro 1- O legado. Cap. 3 "Lagrima Muchkin"



Eu caminhava mecanicamente seguindo Theodora e pouco antes de adentrarmos ao vale ela movimentou as mãos novamente fazendo aparecer uma carruagem.


-Aqui está! O melhor meio de transporte ainda são vassouras, mas como ainda não sabe como usar uma tive que improvisar.

-Pra onde nós vamos?
-Para o leste, é claro! Você precisa aprender a controlar os seus poderes antes de qualquer coisa. E se tem alguém que pode te ensinar, esse alguém é a Mirta!


Mirta era a bruxa má do leste e governadora de Muchkin, não, governadora não era o termo apropriado para ela. Tirana! Ela era a tirana de Muchkin. Antes os habitantes do leste viviam em paz quando as terras eram governadas pelo homem de lata, mas aí Mirta atacou Muchkin com o seu exercito de macacos e escravizou os habitantes do leste que passaram a trabalhar incansavelmente para pagar os impostos abusivos da bruxa. Eu não sabia o que encontraria lá, mas eu tinha certeza de que não estava nem um pouco disposta a ceder as maldades de Theodora e  Mirta.

Quando embarquei na carruagem não havia notado o homem que estava sentado a minha frente. Ele estava preocupado e seu olhar de horror não me permitiu me assustar com a presença de outro estranho naquela noite.


-Ha, havia esquecido de que estava aqui! -Theodora entrou na carruagem e ela partiu logo em seguida avançando sobre o céu. -Porque essa cara de espanto, nunca viu uma bruxa?



-Vocês são como uma peste que se espalham pelos cantos de Oz...

-E o que me diz de vocês... muchkins? -Theodora cerrou os dentes quando pronunciou a palavra. -A unica coisa que ainda mantém vocês vivos é que são ótimos para pisar, igual a como fizemos com a sua mulher, e faremos com o seu fi...
-Não ouse... Falar dele...

Eu conseguia notar a luta interna que o homem travava, ele permanecia firme, mas as lagrimas escorriam pelo seu rosto deixando seus olhos completamente vermelhos e inchados.


-E melhor que você atrapalhe os nossos planos, Calisto!

-Eu não vou, Theodora. Apenas deixe o meu filho em paz!


A carruagem dava alguns trancos e eu permanecia imóvel olhando fixamente para a escuridão do lado de fora.

Theodora pareceu impaciente durante toda a viagem enquanto Calisto tentava se recompor do pranto e desespero.


Eu tentava não pensar em meus pais, ou nada do que havia acontecido, minha menta vagava junto a noite e se esvaziava a cada nova constelação que que passava diante dos meus olhos. Eu já estava praticamente em transe quando senti o tranco do aterrissar da carruagem. Meus olhos correram para a janela eu eu vi algumas luzes abaixo de nós, provavelmente a cidade Muchkin, mas as luzes mais fortes indicavam uma mansão a nossa frente.

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-Finalmente... -Theodora falou abrindo a porta da carruagem e caminhando em direção a casa. -Anda logo! Não temos a noite toda.


Eu a segui pela nevoa densa até chegar a porta da mansão.



-Mirta fez um ótimo trabalho com este lugar... Theodora soltou um suspiro. -Nem parece aquele lixo de antes.


O local tinha luzes espalhadas pelas paredes mais o ar sombrio, ainda nos dava a sensação de não querer permanecer naquele ambiente. As enormes cortinas e as armaduras presas sobre pedestais faziam um barulho assombroso.


-Calisto, encontre Mirta e diga que eu estou aqui a esperando na biblioteca E você... Venha comigo!



Eu segui Theodora pela direção oposta a Calisto, e antes que voltasse a notar a decoração assombrosa, já havia entrado na biblioteca.

Por mais que soubesse do que se tratava eu nunca havia visto uma biblioteca na minha vida, mas não tive tempo hábil para ficar impressionada. Theodora havia puxado uma conversa.


-Nunca tinha visto uma, não é? Theodora se aproximou da mesa e sacou uma garrafa de vidro derramando o seu liquido em uma taça. -Aceita?


-Eu estou bem!


Respondi secamente evitando qualquer tipo de conversa com aquela mulher.



-Deveria aproveitar as coisas boas da vida, menina! Aqueles que você chama de pais sempre te mantiveram presa naquele lugar horrível! Ela caminhou e se recostou na mesa. -Não deve ter conhecido quase nada.



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E sopro de vento ecoou dentro da sala e meus olhos se voltaram para uma mulher que surgia dentre a fumaça.



-Então estava mesmo certa! A garota estava escondida em Winkie...



A mulher de olhar tão frio quanto de Theodora era Mirta, a bruxa má do Leste. Ela também tinha a pele verde e suas vestes pretas lembravam o mesmo estilo de Theodora, ela tinha cabelos longos e escorridos e olhos negros que ficavam mais misteriosos sobre a aba do seu chapéu pontudo.


-Logo iremos conquistar Gillikin de volta e deixar a Glinda em desespero! Theodora sorriu para mim como se visse a vitória na minha imagem. -Vamos vingar a morte da sua mãe Daníca, e vamos deixar todos de Oz saber que a filha de Lenora vai cumprir o seu legado deixado por ela!


Minha mente girava com milhões de informações, a ficha estava caindo aos poucos e cada vez mais eu tinha certeza de que a minha história estava atrelada a daquelas bruxas.



Mirta se aproximou de mim e colocou a sua mão sobre o meu queixo.



-Então aqueles Muchikins acharam que iriam nos enganar, hein... -Ela sorriu. -Eles não sabem o que os aguarda!



-Se fizerem mal aos meus pai, eu não vou ajudar vocês!

-Ajudar? -Mirta sorriu novamente. -Querida não está nos fazendo um favor! Isso é o que você nasceu pra fazer, é a razão da sua existência!


-Infelizmente ela não sabe de nada, Mirta!



-O que?



Theodora se virou e continuou com o seu discurso.



-Ela não sabe da história, nem de nada que ocorreu nos últimos 17 anos.

-Então ela é...
-Exatamente irmã! Um diamante bruto, pronto para ser lapidado!


-Haaa... -Mirta pareceu maravilhada quando ouviu Theodora. -Isso é fantástico!

-Ela precisa ser ensinada, aprender a controlar os seus poderes, e eu não seria capaz de fazer isso com tamanha maestria, então eu a trouxe para você!
-Você... -Mirta segurou o meu roso com a mão firmemente. -Será poderosa, e todos vão temer ao ouvir o seu nome...


Eu senti a minha barriga revirar quando imaginei a ideia de ser odiada por todos, as coisas estavam acontecendo rápido demais e eu não estava conseguindo acompanhá-las, a mistura de emoções veio como um tiro em minha cabeça e a unica coisa que ouvi antes de apagar foi a risada de Mirta.



Estava tudo calmo e em paz, eu podia ouvir o barulho dos pássaros, eu estava no bosque novamente e o sol já estava pra se por. Eu subi novamente a colina e dessa vez eu não estava sozinha. La estava o meu pai sentado observando todo o vale.



-Pai! -Eu corri em direção a ele, e achei estranho o fato dele permanecer calmo demais. -Está tudo bem com o senhor! Como eu vim parar aqui?

-Shiii, calma minha pequena. Ouça, o pássaros estão se despedindo do dia!
-Pai, as bruxas, elas viram atrás de mim, precisamos fugir!
-Não filha, não há perigo! Estamos seguros aqui!


Ele sorriu pra mim e eu senti um vazio me corroer por dentro. Aquilo não era real, o meu pai, o vale, eu estava sonhando, e entender isso foi como levar uma surra da realidade, as lagrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e meu pai me abraçou do jeito que apenas ele sabia. Poucos segundos depois eu estava em prantos.



-Porque pai? Porque isso aconteceu com a gente? Nos somos tão bons, nunca fizemos mal a ninguém...

-Eu sei querida, mas tem coisas na vida que acontecem por alguma razão... Se eu e sua mãe tivéssemos contado isso a você antes, talvez hoje fosse diferente.
-Elas são más, pai! Eu não quero ser como elas, eu não...
-Então não seja, filha! Meu pai segurou meu rosto com as mão e olhou diretamente nos meus olhos. -Sempre teremos escolhas, mesmo que pareça não haver outra opção! Você é uma boa pessoa, e jamais deixe que tirem isso de você Daníca. Eu quero que me prometa!
-Eu prometo!
-Ficara tudo bem filha... Vamos te encontrar, e quando esse dia chegar, ficaremos juntos para sempre!
-Eu amo tanto vocês!
-Nós também te amamos, filha...


O abraço pareceu durar uma eternidade, mas algo me arrancou dos braços do meu pai e me jogou para longe. Quando eu abri os olhos estava deitada sobre uma cama e uma mulher me observava como se fosse um animal em uma jaula.



-Hora, hora... Finalmente você acordou!

-Quem é você?
-Eu sou Sara... Mirta deve ter mencionado. -Sara olhou para mim e percebeu no mesmo instante de que não fazia ideia de quem ela era. -Não mencionou... Bom isso não tem importância! Me fale, como é ser encontrada depois de tanto tempo trancafiada com aqueles...
-Eles são os meus pais!
-Que seja...
-Eu não estava trancafiada e nem queria ser encontrada. Vocês invadiram a minha casa, fizeram mal aos meus pais e me forçaram a vir para cá!
-Não fica irritadinha, garota...
-Sara!


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Theodora entrou no quarto ignorando a conversa amistosa entre mim e Sara



-Mirta quer vê-la, tem algumas coisas que ela precisa te contar!



Sara apenas assentiu com a cabeça e olhou para mim com um sorriso irritante nos lábios!



-Bem, acho que a nossa conversa terá que ficar para outra hora. Aproveite a estadia, Daníca!


Logo em seguida ela desapareceu em uma cortina de fumaça.


Mirta observava pela enorme janela da sala quando Sara entrou com toda a sua falsa superioridade.


-A garota é arredia, precisa de alguém que lhe ensine boas maneiras. -Ela caminhou pela sala e se sentou sobre a poltrona. -Então, sobre o que quer falar?

-Agora que encontramos Daníca teremos que mudar o curso dos nossos planos.
-Como assim mudar o curso dos nossos planos?
-A garota é filha de Lenora, sendo assim, deve ser ela a governar Gillikin!
-O QUE? Gillikin está nos nossos planos desde a morte de Lenora! Sou eu que deveria governar Gillikin, não ela!
-Você não entende, Sara! Aquela garota não é um bruxa comum, ela é muito poderosa, mesmo na forma bruta eu pude sentir a força que ela tem!
-Eu sou tão poderosa quanto ela!
-Você nunca será tão poderosa, Sara! Você é fraca, tem sentimentos mundanos que são inaceitáveis para uma bruxa!
-ISSO É PORQUE EU NÃO SOU VERDE?! HEIN?! ME FALA!
-Isso já está decidido, Sara! Essa decisão não cabe a você.
-Pois muito bem Mirta. -Sara engolia a raiva. -Isso não vai ficar assim!


Sara se teletransportou e já no seu quarto descarregou todo o seu ódio sobre os móveis e objetos a sua frente.


-Maldita! Isso não vai ficar assim Mirta, não vai! Eu sempre estive ao seu lado, fiz tudo por você e é dessa maneira que me agradece?! -Sara caminhou até o guarda-roupa e pegou uma caixa escondida sobre os longos vestidos. -Acha que eu não sou má, suficiente, irmãzinha... Eu vou mostrar para você o que é maldade.


Sara abriu a caixa e retirou um frasco preto guardando uma antiga porção.


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-Eu guardei isso antes que destruíssem todo o laboratório de mamãe, eu sabia que mais cedo ou mais tarde seria útil, só não imaginava que seria pra mim. Mas como ninguém se importa, não há razão para não fazer, afinal de contas, quem precisa de um coração quando na realidade é melhor ser temida do que amada!



Sara virou o frasco sobre a boca e bebeu todo o liquido.


-As coisas vão mudar daqui pra frente, irmã! Vamos ver quem é a fraca agora!


A poção criada por sua mãe transformou Sara naquela noite, em algo que nem ela mesma sabia. Mas a unica certeza que ela tinha era que a partir daquele dia não poderia ser mais chamada de fraca por possuir sentimentos mundanos, afinal de contas, ela não tinha mais um coração.


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