terça-feira, 14 de junho de 2016

Os estranhos casos do escritório da rua 13 - Caso 347: Suspeitas pelo SMS Part. 2


"E o meu verbo transcendeu o clima o fazendo suar"

Eu apenas o observava por trás cortina de fumaça, e se estivesse mesmo certo aquele garotinho iria sair da mesma maneira que havia entrado em meu escritório.

-Eu acho que é um cara, tá legal! Estão tentando me sacanear na escola e por isso eu quero descobrir!

O garoto apertava a barra da camisa já ao ponto de rasgá-la, percebi que estava na hora de pegar mais leve, ele estava se esforçando o máximo, então decidi ajudá-lo.

-Muito bem garoto... E só preciso de algumas informações e se cooperar, e quando digo cooperar eu estou dizendo, ser direto e não ter rodeios, eu lhe direi o que precisa saber.

-Você está com o numero?

-Estou sim...

Ele estendeu um papel com o numero pra mim, e eu o coloquei no bolso.

-A quanto tempo está nessa rotina?

-Duas semanas...

-Isso lhe preocupa?

-Em parte?

-Acredita em alguém perigoso ou apenas uma brincadeira dos seus amigos?

-Acredito que seja uma brincadeira?

-Você é gay?

-O que?! Não... Que pergunta louca...

-Se não é gay, acha mesmo que seus amigos fariam isso, usar o numero de um homem?

-Eu não sei, eu tento descobrir coisas, eu dou a entender sobre as mensagens, mas eles não se tocam, nem desconversam, parece mesmo que eles não sabem o que tá acontecendo...

-Contou a alguém?

-Não, eu tenho medo que alguém descubra isso e ria da minha cara...

-Com que frequência recebe as mensagens?

-Todo dia, varia muito, sempre uma com bom dia, as vezes de tarde, de vez em quando um boa noite... Sempre assim...

-Posso ver o conteúdo das mensagens?

O menino sacou o celular do bolso e me mostrou as mensagens, era obviou que quem escrevia estava tentando conquistar o garoto, eram mensagens no mesmo estilo, o contato com o nome de "X" escrevia frases de amor, trechos de música, algo que as pessoas costumavam colocar no orkut em depoimentos. Algumas vinham com uma esperança de revelação, mas não passava disso. As mensagens do garoto em resposta eram apenas, um " Posso saber quem é você?" repetitivo a cada nova mensagem recebida.

-Eu já tenho o que eu preciso... Dentro de três dias eu entrarei em contato com você, até lá... Continue a responder as mensagens. Qualquer novidade que seja realmente uma pista, entre em contato comigo, ok?

-OK...

Agora sozinho no escritório eu peguei o meu telefone e disquei o numero que ele havia me entregado. Caixa postal. Pela minha experiencia eu diria que o garoto está com medo de se envolver com algo que vai machucá-lo no futuro, ou pior, o expor de maneira agressiva. Mas ele já estava envolvido demais com as mensagens deve ser muito solitário para entrar nessa neurose. Descobrir quem era o dono do celular seria a coisa muito fácil, entrei na internet e descobri a operadora do numero qual ele recebia as menagens, rapidamente disquei o contato do atendimento e depois de alguns minutos já estava falando com uma teleoperadora.

-Em que posso ajudá-lo?

-Eu comprei um chip para presentear a minha mãe e não me lembro se cadastrei.

-Seria o numero que está falando comigo?

-Não, não seria outro

Não demorou muito para ela retornar...

-Senhor, esse numero já está cadastrado.

-Então eu já cadastrei... Está no nome dela?

-Não senhor, é um nome de homem

-Então tá no meu, muito obrigado!

-Senhor não está no seu nome... E de uma outra pessoa.

-Não ta meu nome?  Estranho... Porque acabei de comprar

-Mas esse chip está cadastrado a mais de três meses, senhor

-Poderia me dizer apenas o primeiro nome para ver se eu o reconheço.

-O primeiro nome é Jeferson, senhor...

-Não... Não conheço, acho que errei o numero, vou procurar e retorno, muito obrigado!

As coisas estavam favoráveis para o garoto, numa mesma ligação eu descobri que era um homem e que ele se chamava Jeferson.

Nos dias seguintes eu fiz uma pesquisa de campo, o garoto não tinha nenhum parente ou amigo com esse nome, as vezes em que eu tentei ligar o numero não atendeu no modo privado, e apenas ficava mudo esperando o reconhecimento da minha voz. Provavelmente a escola deveria ter uma gama de Jeferson's, mas era o único começo.

Eu segui o garoto durante os dias seguintes, a escola estava em pré gincana, o que aumentava a dificuldade, muitos alunos andando pelo enorme parque de um lado para o outro, alguns namorando, outros bebendo, outros fumando maconha, e outros sentados apenas conversando.
Eu havia avistado o garoto, ele estava sentado rindo com alguns colegas e rodeado de pessoas de outras escolas. Era uma tarde de sexta e os alunos estava aos montes pelo parque Costa Azul, eu precisava ser cauteloso para que o garoto não me encontrasse, isso poderia estragar a visita de campo.
Eu o observei por algumas horas, ele estava sorrindo e se divertindo cheio de mochilas em volta, estava tudo tranquilo quando ele ficou sentado por alguns minutos sozinho em um banco de costas para os amigos que bebiam e batucavam um pouco mais distantes, ele olhava o celular, imaginei que deveria ser outra mensagem. Olhei em volta a procura de pessoas com celular na mão, mas era bem provável que a apessoa estivesse sem o celular nas mãos a uma altura daquelas.
Eu estava bem paciente aquele dia e ficaria ali até o garoto ir embora, mas as vezes somos surpreendidos com feitos do destino, no meu caso costumo chamar de estar no lugar certo, na hora certa, ou em sua tradução FLAGRANTE. Um dos melhores momentos e mais esperados de um detetive.

Um garoto de outra escola, gravei a farda, sentou e conversou com eles por alguns instantes, mas foi no meio daquela conversa que eu pude presenciar o garoto ser puxado e ter um beijo roubado. A minha máquina fotografou cada momento da cena, a assim que vi o jovem garoto confuso e agora sem rumo sair em direção ao ponto, segui o resto da tarde inteira o menino do "outro colégio", e o vi agir como nada tivesse acontecido, beber e rir com os colegas e depois de algumas horas ele seguir para o outro lado da praça em direção a um ponto de ônibus.
Eu o segui até o ponto e me aproveitando da situação, dissimulei uma situação para puxar conversa com o garoto.

-Boa noite, você sabe me dizer como eu faço pra chegar até o Shopping Iguatemi por aqui, eu não moro aqui e acho que vou perder meu ônibus.

-Pegue esse daqui e pede pra o cobrador lhe mostrar o ponto, o Iguatemi fica aqui do lado, rapidinho você chega.

-Poxa... Muito obrigado! Qual o seu nome?

-Jeferson.

-Muito obrigado Jeferson, valeu pela força.

Eu entrei no ônibus e apos a primeira curva desci no ponto seguinte. Caminhei até o carro e retornei para o escritório. Todo o dossiê, já estava pronto e no dia seguinte chamaria o garoto até o escritório.
Mas no dia seguinte o garoto surgiu pela porta com uma cara bem estampada e sentou-se frente a mesa.

-Não precisa mais continuar... Ele colocou o dinheiro na mesa. -Eu acho que já tenho a resposta.

Eu apenas o olhei para ter certeza da cara de felicidade que ele tentava me esconder.

-Acho que temos um caso encerrado por aqui. E pelo visto não precisou que eu lhe dissesse nada.

-Eu acabei descobrindo tudo...

-O Jeferson não me pareceu um cara ruim, aproveite o seu romance as escondidas e cuidado para não por os pés pelas mãos.

O garoto me olhou com uma cara de surpresa.

-Eu sou um detetive garoto esse é o meu trabalho e não precisa se preocupar, o seu segredo está guardado.

Ele apenas sorriu para mim e saiu pela porta do escritório. Lembro de ter visto o garoto tempos depois, ele estava namorando com uma garota, ele não seguiu o meu conselho e acabou colocando os pés pelas mãos. Ele não era um mal garoto, só precisava se encontrar. E eu espero que hoje em dia ele seja alguém mais confiante comparado com o garotinho amedrontado e arredio que havia entrado no meu escritório a oito anos atrás.

O caso 347, mostrou que as suspeitas do SMS eram verdadeiras, existiam realmente alguém, o "X" da questão, Jeferson, um garoto que não precisou ser revelado pois me deu um dos maiores flagras adolescentes da minha carreira.


O 347 ESTÁ: 










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